sábado, 19 de novembro de 2011

O mesmo sonho

Essa noite de novo. O mesmo sonho. O passado. O passado feliz.Todos felizes. O sol não tão quente. Os dias não tão amargos. O rio transbordando. A água inundando tudo. Os corpos boiando de novo. De novo. Essa noite. O mesmo sonho.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O fim de todas as coisas vivas 1 de 9: O banco de concreto

No inicio do ano, eu precisei viajar para Belém. Odeio aquela cidade e ela sabe disso. Por isso, sempre que piso no solo paraense, sou acometido por alguma doença horrível ou atingido por alguma catastofre similar. Dessa vez, foi diferente. Não aconteceu nada, pelo menos comigo.Na verdade,preferia que tivesse acontecido comigo. Sou acostumado com os golpes terríveis que a vida me dá ( talvez seja pelo fato de eu estar sempre seriamente bêbado quando eles são desferidos) e por isso, eu ligo pouco para eles.Blábláblá Já estou fugindo do assunto. Vou logo pular todo o meu lamento para facilitar a vida do leitor.

Na minha curta estadia em Belém, eu costumava sentar em um certo banco, em uma certa esquina e fazer coisas idiotas que eu fazia na minha casa em Macapá e não fazia na minha casa em Belém pelo simples fato de não sentir que aquela casa era minha. As minhas atividades nesse banco eram contar dinheiro, falar sozinho e me sentir terrivelmente só e desolado nesse mundo tão cruel. Eu costumava a visitar ele nos dias de sabado e domingo.Ele era o meu único refúgio na triste Belém do Pará que fede a mijo e sonhos destruídos eternamente.

O banco foi arrancado do lugar que ele ficava por algum guincho gigante ou sei lá o nome daquela máquina medonha com garras. Quando eu o encontrei, ele era uma pilha de concreto e metal retorcido. Havia fezes de cachorro entre as ruínas do meu porto seguro. O horror havia levado outra coisa que eu amava de mim. Um morador estava alimentando alguns pombos sem fome. Eu fui até ele. Ele disse que o lugar que o banco ocupava serviria agora para alojar um caixa eletrônico do Bradesco.Ele estava bastante feliz por isso, o neto menor poderia ajuda-lo com as operações básicas de saque e extrato.Fazia anos que os moradores do bairro estavam pedindo um caixa eletrônico para essa área.

E o banco, eu perguntei.

Ele me disse que ninguém nunca notou que estava ali.


domingo, 28 de agosto de 2011

Dentes.

Hoje, eu acordei sem o meu dente número 17. Eu tenho um problema crônico na minha arcada dentária, metade dos meus dentes são restaurados e tem partes falsas.Quem já sonhou em perder os dentes sabe o quanto a situação é horrível, angustiante, fora de controle. Quem perde os dentes acordado tem uma sensação mil vezes pior.Eles nunca mais voltarão.Você nunca mais poderá comer o chocolate Talento. Minha mãe é dentista e sempre frisou a importância da higiente dental. Eu nunca liguei.Os meus dentes não resistiram ao meu vicio em Halls. E eu comecei a usar halls por que a pastilha benalet estava prejudicando a minha faringe.

Meu corpo perde a luta contra os meus vícios. Eles se acumulam cada dia mais. Bronco-dilatadores, anti-alérgicos,pastilhas, analgésicos e tudo mais que se pode engolir.Eu estou perdido. Eu li em algum lugar que o homem, para viver com dignidade, só deve viver até quando os seus dentes sobreviverem. Minha vida avança em progressão aritmética, meus dentes caem em progressão geométrica. Eu vejo os homens lindos da televisão, eu vejo a glória deles, eu vejo os barcos brilhantes, os carros luxuosos, eu vejo os dentes deles.Invejo o dentes, não invejo o resto.Não sei velejar, não sei dirigir. Só quero meus dentes de novo.Só quero poder ter a sensação de poder mastigar, mais uma vez, chocolate talento.

sábado, 6 de agosto de 2011

A gaiola das aves mortas

Tudo começou com a morte do primeiro periquito. Ele estava velho demais.Dos 65 periquitos da gaiola, ele foi responsável por quase 45% deles. Um dia, ou noite, ele simplesmente caiu no fundo da gaiola.Quando o dia amanheceu, ele já estava com as órbitas dos olhos cheias de formigas e outros insetos. Nós retiramos ele da gaiola e o enterramos no fundo do nosso quintal. Com ou sem aquele túmulo entre as mangueiras, o bichinho ia se decompor mesmo. Mas o cheiro iria incomodar o meu pai, incomodar os outros periquitos confinados e incomodar o perfeito daquela habit falso que era aquela imensa gaiola.

As outras mortes foram acontecendo logo depois. Pelo fato dos periquitos ficarem na mesma gaiola e terem como companheiros sexuais apenas primos e irmãos, as novas gerações iam nascendo cada vez mais fracas, cada vez mais aptas a doenças horriveis.Uma vez, um ovo não chocou junto com os outros, quando nós abrimos um liquído negro horrível escorreu da casca e um pequeno periquito deformado caiu aos nossos pés. Meu pai era um homem católico, os pais dele eram católicos. Será que ele não sentia a caracteristica culpa dos católicos por aqueles pobres animais?

Certa vez, uma chuva forte virou a gaiola. Os pássaros dentro dela enloqueceram. Mataram uns aos outros. O horror. Quando o dia amanheceu, havia menos de 15 periquitinhos vivos, todos seriamente feridos.As penas e os cadaveres dos mortos estava grudada ao chão da forma hedionda possível.Uma aquarela de sangue e penas de todas as cores possíveis. Sim, seria bonito se não tivesse cheiro e se não tivesse tantas formigas para ferrar os nossos pés. Aquela deve ter sido uma semana boa para as formigas.

Os periquitos foram levados para uma gaiola menor. Eu invejava o zelo que o meu pai tinha com aquelas aves. Cada morte, cada ferida infeccionada tirava lágrimas do rosto sempre severo dele. O mesmo valia para os outros animais da casa. Até para os patos que iriam encontrar a morte na ceia de natal.As feridas e constante umidade reduziram os periquitinhos a 3. Estes se curaram da última grande desgraça que ceifou a vida dos seus irmãos, pais, filhos, sei lá.

Mas não por muito tempo.

No fim do meu ensino médio, o último morreu.Dois anos depois da desgraça que levou os seus amigos, irmãos, primos, filhos, pais, mães, companheiros de cela. Morreu duro no fundo de uma gaiola pequena.Os olhos não foram devorados por formigas. A gaiola era suspendida bem alto. Meu pai estava viajando. Coloquei a ave morta dentro de um saco de lixo e joguei dentro do mesmo saco em que nós recolhíamos o lixo dos banheiros. Fiz uma cova de mentira para o bicho entre as mangueiras. Meu pai chegou, lavou a gaiola e comprou outros periquitos.

sábado, 23 de julho de 2011

O texto sobre a festa de animes que devia ir para o Blog Sou do Norte (mas não foi)

Atenção: Esse texto nunca foi publicado no Blog Sou do Norte. Ele é da minha total e completa autoria e responsabilidade. O texto é sobre as impressões que eu tive do evento chamado Amapanime e que, por razões óbvias, eu nunca tive coragem de mostrar a minha querida amiga Camila karina. Aí vai :


O inferno fede a punheta


Acabo de voltar do evento Amapanime. Estou sem internet. Ainda estou com o olho roxo. Meu nariz ainda sangra. As aftas que me impediam de mastigar e engolir a minha refeição desapareceram.Agora, eu posso beber agua, agora eu posso, finalmente, ficar livre do anestésico tópico que a minha mãe me deu para abreviar a dor insuportável que as aftas provocam.Ele era bastante eficiente. 15 minutos de dormência. Depois, a dor voltava pior.Muito pior. Isso é passado agora. Desse terrível só resta pequenas marcas embranquiçadas no meu lábio inferior.

Quando nós chegamos no Amapanime, o relógio marcava 16 horas e alguma coisa. O sol ainda estava muito forte. Não nos cobraram entrada. Acho que a organização do evento já estava cansada demais para ficar embaixo do sol cobrando quilos de arroz , feijão e toda essa merda.Minha mãe nunca gostou de ir em eventos que a entrada é o quilo de alguma comida "não perecivel". Ela acredita que o profissional que respeita o seu trabalho, cobra por ele.E cobra caro.

O amapanime estava dividido em dois públicos. O público que gosta de anime e que se sujeita as mazelas de gostar dessas coisas( exemplo:se vestir de majin boo sob um sol escaldante, pular em um tapete idiota fazendo poses constrangedoras e muito mais). O outro público é o que veio ver as bandas ( que estavam muito atrasadas).Esse tipo de iniciativa de colocar dois públicos em um evento feito especificamente só para um é,no minimo,desastrada.

Na verdade, eu sei lá se é desastrada ou não. Eu, Igor Reale Alves, sou um exemplo de vergonha alheia.Uma dia desses, eu estava andando na rua, quando eu percebi que estava indo no mesmo caminho que uma mulher e sua pequena filha de quatro anos. Eu continuei andando atrás delas e as duas aceleraram o passo com medo de mim. Muito medo, aliás. Era quatro horas da tarde. A hora dos pedófilos passearem de carro pela cidade, observando a doçura sem fim das crianças, o seu sorriso inocente, as suas roupinhas coloridas. Voltei para casa e imaginei como seria se eu estivesse fantasiado de majin boo ou algo do tipo? Fiquei pensando nisso por um bom tempo e depois parei.

Queria que a minha internet estivesse de volta. Minha internet sempre foi uma boa companheira.Tenho certeza que ela seria uma boa companheira agora.Estou viciado em realitys shows comportamentais do discovery health & people.Supernanny é o meu favorito. Durmo e sonho com os meus filhos imaginários aprontando peripécias terríveis que eu não sei como controlar.Então, eu chamo uma gorda de óculos e sotaque inglês. Ela me repreende por ser um péssimo pai para os meus filhos. Ela me põe no banco de castigo, me dá uns tapas, me deixa com olho roxo, caga no chão e me força a lamber. Sim, depois disso eu serei disciplinado. Para sempre.