quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O fim de todas as coisas vivas 1 de 9: O banco de concreto

No inicio do ano, eu precisei viajar para Belém. Odeio aquela cidade e ela sabe disso. Por isso, sempre que piso no solo paraense, sou acometido por alguma doença horrível ou atingido por alguma catastofre similar. Dessa vez, foi diferente. Não aconteceu nada, pelo menos comigo.Na verdade,preferia que tivesse acontecido comigo. Sou acostumado com os golpes terríveis que a vida me dá ( talvez seja pelo fato de eu estar sempre seriamente bêbado quando eles são desferidos) e por isso, eu ligo pouco para eles.Blábláblá Já estou fugindo do assunto. Vou logo pular todo o meu lamento para facilitar a vida do leitor.

Na minha curta estadia em Belém, eu costumava sentar em um certo banco, em uma certa esquina e fazer coisas idiotas que eu fazia na minha casa em Macapá e não fazia na minha casa em Belém pelo simples fato de não sentir que aquela casa era minha. As minhas atividades nesse banco eram contar dinheiro, falar sozinho e me sentir terrivelmente só e desolado nesse mundo tão cruel. Eu costumava a visitar ele nos dias de sabado e domingo.Ele era o meu único refúgio na triste Belém do Pará que fede a mijo e sonhos destruídos eternamente.

O banco foi arrancado do lugar que ele ficava por algum guincho gigante ou sei lá o nome daquela máquina medonha com garras. Quando eu o encontrei, ele era uma pilha de concreto e metal retorcido. Havia fezes de cachorro entre as ruínas do meu porto seguro. O horror havia levado outra coisa que eu amava de mim. Um morador estava alimentando alguns pombos sem fome. Eu fui até ele. Ele disse que o lugar que o banco ocupava serviria agora para alojar um caixa eletrônico do Bradesco.Ele estava bastante feliz por isso, o neto menor poderia ajuda-lo com as operações básicas de saque e extrato.Fazia anos que os moradores do bairro estavam pedindo um caixa eletrônico para essa área.

E o banco, eu perguntei.

Ele me disse que ninguém nunca notou que estava ali.