Meus primos tinham brincadeiras eróticas demais. Todos se reuniam em um quarto que ficava no meio da casa da minha vó, esse lugar em especial tinha ar-condicionado e muitos colchões, ou seja, o ideal para crianças brincarem o dia todo. No entanto, minha família nunca foi muito de pira-pega ou garrafão. Devido a nossa educação terrivelmente cruel e limitadora, acabávamos nos tornando pequenos adultos retardados, imitações distorcidas de nossas figuras materno-paternas. Daí nossas brincadeiras não funcionavam como entretenimento infantil e sim como ensaio para a vida adulta que teríamos em 10 ou 15 anos.
A brincadeira favorita era Mundo dos Executivos. Dois núcleos de uma empresa eram formados por 5 ou 6 primos cada um e começava um terrível jogo de poder e sexo para ver quem seria o maior e mais poderoso executivo.Nessa brincadeira, eu era o motorista da minha irmã. E ficava no canto, espionando as terríveis negociatas que ela fazia, manipulando meus outros primos de mente mais fraca e simulando sexo animal e selvagem com outro primo meu, que era dono da empresa rival. Aos empregados da minha estirpe, as partes sexuais da brincadeira eram restritas. Para mim, que era considerado o primo seriamente doente, quase todas as partes da brincadeira eram restritas. Tinha um histórico de comportamentos suspeito. Comia papel, pontas de grafite, borracha, bebia tinta e cheirava cola polar.Nas partes mais violentas da brincadeira, eu era convidado a me retirar do quarto.
Em uma dessas, contei tudo para a minha vó.Minha vó materna é bem diferente da minha mãe. A mulher que me pariu é histórica, neurótica, descabelada e seriamente desequilibrada. Minha vó não é assim. Ela morou em um interior realmente interiorano de Belém, quando via uma garça na tv, ela se lembrava de quando era criança e via o belo pássaro no rio, elas e os irmãos nadavam até o bicho, quebravam o pescoço da garça e, em seguida, comiam a criatura sem preocupação ou culpa nenhuma. Eu jamais comeria uma garça. Tenho pavor de ver em minha comida, a forma definida do animal que ela foi um dia.
Minha avó desligou o ar-condicionado. Deu umas palmadas com sandália nos pequenos filhos da puta. Eu ria de forma maligna e satisfeita por ver que eu tinha derrubado os dois impérios de sexo, ambição e perversões sem fim. Depois de punir a todos, ela mandou cada um para a sua casa. O único que restou era eu, pronto para receber as terríveis represálias que viriam de meus primos mais tarde. Minha vó me chamou para ir para a mesa com ela. Quando o relógio batia 15 da tarde, ela gosta de ouvir o jogo do bicho. Na rua que ela morava, o jogo era a grande diversão. Minha vó mora no Utinga, em Belém. Lá não havia grandes prédios. A maioria era terrivelmente pobre, havia poucas casas de alvenaria. O asfalto era de barro. Como ficava em frente ao portão da COSANPA, grandes caminhões passavam toda hora. Um dia, uma criança teve a cabeça esmagada por um desses caminhões, espalhando sangue e miolos nos grandes buracos que o barro formava.
Enquanto minha vó esperava o jogo do bicho, ela contou uma terrível história da infância dela no interior. Quando dois irmãos foram encontrados nus pelo pai. Não se sabe se houve algo entre eles. A irmã dormia alinhada nos braços do irmão. Ambos eram bem novos e ainda não tinham alcançado a puberdade. O pai sempre fora um homem controlado, até demais para os padrões viscerais do interior, mas não suportou ver a cena e matou as duas crianças com um terçado. A mãe fora morta também por tentar intervir. Os vizinhos presenciaram o massacre e atacaram o homem transtornado, quebraram a cabeça dele, amarram o corpo em um pedaço de pau e começaram a esfaqueá-lo. Um dos irmãos da minha vó participou da situação e quando chegou em casa, disse que o homem teve as suas tripas arrancadas para a contemplação pública.
O interior é realmente brutal demais. Ouvimos poucas histórias como essas por aqui.Nossos postes estariam cheios de degenerados, pendurados pela tripa. Este terrível conto ganhou cor e som esses dias. Em um dia de embriaguês, vi andando pela rua, quando vi dois cachorros desavergonhados copulando miseravelmente perto da minha casa. A cadela não tinha uma perna. Mesmo assim, se contorcia toda para receber o falo destruidor e inchado de seu amante, gritava de dor, se contorcia de desconforto. Mas o que dor e desconforto delimitam? A imagem me desconcertou e eu vomitei como um louco.
Durante a noite, no mais profundo dos sonhos, os amantes apareceram. Deitados, a pele úmida, reconfortados, inconscientes do holocausto que os esperava mais tarde.
quarta-feira, 31 de março de 2010
Planeta Góes. Capítulo 2 de 9: A degradação sexual da familia Reale.
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